Capítulo 71
No Jardim das Ervas.
Depois de um dia inteiro de trabalho, Marcos Rodrigues não se permitia descansar.
Dona Rodrigues repousava exausta sobre o sofá, sua fraqueza era tanta que sua pele parecia grudada aos ossos, e um cheiro fétido exalava pelo quarto, misturado ao aroma de ervas medicinais: “Pare de se ocupar tanto, meu corpo já está neste estado, não vai melhorar muito.”
“Viver mais un dia é apenas um fardo extra para você, mamãe só espera que você possa estudar bastante e, no futuro, aliviar a carga sobre os ombros do pai…
Marcos Rodrigues esvaziou o penico e voltou para dentro, onde, em uma mesa desgastada, seu computador ainda estava ligado, exibindo códigos que ele estava escrevendo para um concurso. Se ele ganhasse o prêmio, ainda haveria uma chance de tratar a doença.
Marcos não respondeu, depois de deixar o penico de lado e lavar as mãos na torneira perto da porta, ele voltou para o quarto e se sentou ao lado do computador: “Se você não se sentir bem, me ligue. Descanse agora.”
Ela se arrependeu de ser um fardo…
Marcos havia começado do zero com informática, pois seu objetivo inicial era estudar medicina, na esperança de curar sua mãe com suas próprias habilidades médicas.
No entanto, ele percebeu que, por mais que se esforçasse, estudar medicina não lhe permitiria ganhar dinheiro rapidamente; pelo contrário, só os arrastaria para mais dificuldades.
Estudar medicina demandava tempo. Sem outra opção além de se voltar para a computação, Marcos abandonou seu sonho pela realidade…
As duas e meia da manhã, lutando contra o sono, ele salvou o código que havia escrito.
Seu computador havia sido montado com peças de segunda mão, depois de economizar por meio ano. Não era caro, mas manter as despesas domésticas em dia havia tornado tudo mais lento.
A bolsa de estudos da Universidade DF que conquistara quase se esgotara com os custos do tratamento de Dona Rodrigues, obrigando–os a se mudar de volta.
Na S*xta–feira anterior, após celebrar o aniversário de Letícia Silveira, Sr. Rodrigues, com o coração pesado, havia feito o procedimento de alta hospitalar para ela. Sem dinheiro… Apenas os remédios à frente poderiam mantê–la viva. Não havia outra opção…
Algumas pessoas nascem em Roma e nunca se preocupam com dinheiro.
Outras, porém, correm atrás do dinheiro e da vida…
Aquela semana parecia ser a mais longa que Letícia Silveira já havia vivido, e ela se sentia mais angustiada do que nunca.
Marcos parecia ocupado demais para sequer cumprimentá–la.
Mas ele tinha tempo para conversar e rir com Márcia…
Na S*xta–feira, depois da escola..
Letícia observou de longe enquanto Márcia e Marcos entravam no ônibus.
Distraída, um luxuoso carro preto se aproximou e ela parou. A janela se abriu, revelando um rosto maduro e contido: “Entre!”
Será que Sérgio Pereira tinha mesmo vindo buscá–la?
Letícia pensara que fosse apenas uma brincadeira.
Assim que entrou no carro e chamou “Irmão” – abraçou a mochila, claramente abatida.
Letícia nunca conseguiu esconder seus sentimentos; tudo estava sempre estampado em seu rosto.
Quando o carro começou a se mover, Sérgio segurou sua mão sobre os joelhos: “O que houve? Está triste?”
“Alguém te incomodou na escola?”
Letícia Silveira não se atreveu a mencionar Marcos Rodrigues na frente dele. Ela se aproximou de Sérgio Pereira, deslizando suavemente para o lado dele e, então, enlaçou o braço dele, recostando–se em seu ombro: “Simplesmente não estou feliz.” Sérgio Pereira sorriu levemente: “Pensa no que você quer para o jantar. Que tal camarão? Ou peixe assado ao molho?”