31
Estava quase no meio do meu almoço, quando Oliver começou a puxar conversa.
Vai fazer o quê da vida agora que se tornou maior de idade?
– Ah, eu vou continuar trabalhando, e me inscrever numa faculdade a distância.
Oliver parou de comer, talvez surpreendido com minha resposta.
– O que irá cursar? – Perguntou curioso.
– Pedagogia.
Respondi e voltei a comer, porém, ele não! Continuava a me observar.
Quando vai começar?
Eu não sei, ainda preciso comprar um notebook, e ai sim, vou procurar uma boa EAD.
Um bom notebook custa caro! – Desdenhou
Eu sei, mas só vou usar para estudo, então não serei tão exigente na hora da compra um. – Sorri
com sarcasmo.
Você tem resposta para tudo em?
– Só para as perguntas que me fazem.
Eu não queria ser grossa, mas não iria deixar Oliver me por para baixo, já bastava me esnobar pelas
minhas poucas roupas.
Sua mãe te ligou?
Do nada mudou de assunto, o que me deixou um pouco sem jeito, mas claro que iria responder. Sempre fui muito clara em relação a minha vida e isso não era nenhum segredo. 2
–
– Não, ela não tem meu telefone, e também se tivesse não me ligaria. Conclui.
Posso saber como tudo aconteceu no dia que você fugiu de casa?
Oliver era direto, talvez se achasse no direito de saber das coisas por ser meu patrão. Eu não me
importava em falar, mas conversar com ele me dava a sensação que estava desabafando com uma
serpente, que esperava a hora de dá o bote.
O que quer saber especificamente? – O deixaria suprir suas dúvidas.
Seu padrasto, já tentou alguma coisa com você antes?
– Não, nunca… Na verdade, minha mãe não gostava que eu ficasse em casa, quando era dia de
1/4
Ela já sabia que ele era assim? Por isso fazia isso para te proteger?
– Na verdade, ela fazia isso para se proteger. – RiEla morria de ciúmes dele, então fazia de tudo
para que eu ficasse o mais longe possível.
Como conseguiu fugir dele? Como você conseguiu sair de casa?
– Eu estava colocando minha comida no prato, quando ele se aproximou e tentou tocar em mim,
então, joguei a comida com o prato e tudo no rosto dele, corri no meu quarto, que ficava já perto da porta de saida, peguei minha bolsa e sai correndo.
Oliver ouvia tudo com atenção, confesso que não era o tipo de conversa que eu queria ter hoje, mas
era bom conversar com alguém.
– Por que veio direto para a capital?
Porque uma amiga minha tinha uma passagem comprada para cá, e no desespero para me
ajudar, me deu.
– Você tinha noção do que estava fazendo pelo menos?
Eu estava desesperada, simplesmente agi.
– Por que pegou o caminho para a fazenda a pé?
Era pergunta atrás de pergunta.
Uma senhora numa barraca de comida me disse, que na fazenda sempre empregava gente, e eu teria chances, mas, como só havia carros ao sábado para lá, resolvi arriscar, no dia que cheguei
Você corria risco de vida numa estrada desconhecida e sozinha, podia ter morrido.
-Eu sei, mas estou feliz que te encontrei, e quem não morreu foi você! 1
Sorri, mas logo depois fiquei com vergonha do jeito que falei com Oliver.
Eu era uma pessoa que não tinha medo de expressar sentimentos ou emoções, mas com Oliver
diferia, ele me deixava encabulada.
Voltamos ao silêncio, e então terminei de comer e ele também. Eu poderia jogar o mesmo jogo e fazer perguntas, já que ele me interrogou tanto, mas preferia que ele se abrisse espontaneamente,
no momento dele, com certeza ainda doia muito falar da mãe do Noah.
– Podemos ir?
Sim senhor.
Perguntou
Ele pagou a conta.
Pode descontar minha parte do meu salario esse mes, senhor.
Deixei claro.
– Que salário? Esqueceu que descontarei o dinheiro do hospital? Você ficará sem salário por um
bom tempo.4
Ao falar isso, se levantou e saiu, e eu o segui. Já preocupada em saber quanto teria dado a conta do hospital, mas, por que também ele me trouxe para um hospital particular? Esse homem sabia como estragar o dia de alguém, como iria comprar meu notebook agora? Se gastasse o dinheiro que eu tinha, ficaria sem nada por um tempo indeterminado.
– Desalmado, sem coração, nunca ouviu falar do SUS?
Falei baixinho, mas mesmo se tivesse falado alto ele não me ouviria, pois já estava quase perto do
carro, porque além de ter passos largos, andava muito rápido.
Entrei no carro e logo saimos.
famos para a fazenda, não via a hora de ver Noah, e dormir abraçadinha a ele. Oliver dirigia em
silêncio, por um segundo olhei para ele pelo retrovisor do carro, e me pareceu que ele estava sorrindo, com uma cara bem debochada, eu não o entendia, pensei no que poderia ter perdido para
ele ficar assim, e continuei calada olhando para a frente, mas logo após virar duas quadras, lá
estava ele, o mar! 2
Oliver dirigia por uma avenida beira-mar, e eu fiquei desacreditada no que via, a praia, a areia, as
ondas, aquele tanto de água, me senti como uma criança que queria muito, pedi para a mãe que a
deixasse correr um pouco pela areia, fiquei muito eufórica.
–
Que cara é essa? Parece que nunca viu o mar!
A voz de Oliver ecoou nos meus ouvidos.
– É a minha primeira vez.
Falei. Logo sua cara de deboche passou, e em seu semblante veio algo como se estivesse surpreso.
Então parou o carro num estacionamento, desligando a chave.
– Você está falando sério, nunca viu o mar?
– Sério. Posso te pedir algo? – Disse tímida. – Aproveitando que desligou e estacionou o carro,
posso ir até à praia rapidinho?
Oliver ficou quieto por um tempo, até assenti com a cabeça num sinal de sim. Peguei meu celular
e desci do carro parecendo uma criança, tentei ser o mais normal possivel, mas quando pisei o pé
na areia, me senti num parque de diversão, tirei minhas sandálias e corri para a água, era tão
emocionante, fiquei um pouco tonta quando a água veio para perto de meus pés, comecei a filmar
com meu telefone.
Esse é o dia mais feliz da minha vida, hoje fiz dezoito anos, e conheci o mar!
Filmei tudo, chutando a areia, meus pés molhados, meu sorriso.
Que logo desapareceu quando viu Oliver perto, ele estava em pé me observando, agora estava com
um óculos escuro no rosto, meu momento precioso foi estragado por sua cara séria.
–
Quer que eu bata uma foto para você? Falou sério.
–
–
– Não precisa! Fiquei sem jeito.
– Vai. Sorria como estava antes.
Tirou o celular do bolso.
Fiquei super sem jeito, além dele está tirando fotos minhas, estava tirando com o próprio celular,
não consegui sorrir, estava tímida. 4
– Está bom senhor, muito obrigada.
– Me dá seu número, que vou te enviar as fotos.
Lembrei que Oliver não tinha meu número de telefone, o que era necessário, já que algo podia
acontecer com Noah e eu teria que contatá-lo, dei meu número e logo chegaram as fotos pelo W** **p. E eu, que pensava que já ia embora, fui surpreendida com Oliver se sentando na areia. 3)
– Senta ai, aproveita que estou bonzinho hoje. 13