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Denise era uma pessoa que me transmitia muita verdade, ela parecia muito confiável, jamais
contaria a alguém o que ela me contara.
-Eu e o Saulo, sabe? Disse com um pouco de vergonha. Temos um caso já faz bastante tempo, para ser mais exata há mais de dois anos, quando ele vem para a fazenda a gente sempre fica junto, mas sou bem pé no chão nas minhas coisas. Uma hora ou outra ele pode ir embora, arrumar alguém da mesma classe social dele, ou simplesmente achar que eu seja um passatempo, não sei, sabe? Mas enquanto ele está aqui a gente se aproveita ao máximo, eu gosto dele, não negarei, mas se ele dizer que não dá mais, eu sigo minha vida bem de boa. 2
– Percebi uma intimidade entre vocês mesmo. – Disse sem jeito.
– Tudo bem, todos já sabem, mas às vezes, o Saulo me confidência algumas coisas.
O que você quer dizer com isso?
Ele não falou diretamente, sabe? Mas acho que o senhor Oliver tentou contra a própria vida quando trouxe o menino para a casa, tanto que Saulo estava de viagem e veio para a fazenda tão depressa, sem malas, nem avisos, so pegou o carro e veio, acho que Oliver disse que ia fazer algo e
que queria que Saulo cuidasse do filho para ele.
-Eu não acredito Denise! – Fiquei chocada, era muita informação para processar simultaneamente.
– Também não. Mas foi o que entendi, ele tentou tirar a própria vida, mas na hora algo aconteceu e ele pensou melhor voltando para casa. Não sei o que aconteceu, nem Saulo me falou nada, mas fico tão feliz em saber que o Oliver está bem. Ele não poderia morrer por causa daquela vagabunda não, seria o que ela queria!
–
–
– Tem razão Denise, nossa! Respirei fundo – Depois de você me falar isso, estou até enxergando o Oliver com outros olhos, mas se ele amava tanto o filho, por que até hoje, nunca tocou nele?
– Pode ser porque tudo está bem recente ainda, ele deve está com algum trauma, tudo na vida dele
mudou muito rapidamente, então eu te peço, tem paciência com ele, tudo bem? Ele pode ser aquele homem durão agora, mas, no fundo, so está magoado, o Saulo me falou que você está querendo ir embora, não vai não! Você está cuidando tão bem do Noah, que até o Oliver sem dizer uma palavra reconhece.
Obrigada por me contar Denise, eu ia embora mesmo sabe? Tem muita coisa acontecendo na
minha vida, mas confesso para você, me apeguei a esse anjinho desde o dia que eu o vi pela. primeira vez, agora mais do que nunca quero cuidar dele, ainda mais sabendo que a mãe nunca
teve um pouquinho de amor para dar a esse bebé.
Voce vai ver, logo o Oliver se aproxima do filho, pode não parecer agora, mas ele se preocupa
demais com ele.
– Estou entendendo o lado dele um pouco agora, também não sei como reagiria a tantas
apunhaladas assim.
– Nem eu! Sinceramente eu nunca perdoaria uma traição, podia amar a pessoa do jeito que fosse, ainda mais ela que só se fingiu de arrependida por ser descoberta.
Verdade Denise, ele teve o coração bom demais.
Nossa, já olhou a hora? – Falou olhando no celular, Meu Deus, vai dar quase meio-dia!
– Nossa, eu nem percebi. Também, estou sem relógio.
–
– Cadê seu celular? Perguntou curiosa.
– Ele está aqui, mas fica desligado.
–
Ué, por qué?
– É uma longa história Denise, depois conto para você.
–
–
Mas me passa seu número ai então, só para deixar gravado aqui.
Eu não tenho um número, joguei meu chip fora. Expliquei
– Eita! Então aproveitamos que vamos ao shopping e compramos outro!
–
Disse empolgada.
–
Não posso. Resumindo tudo, não posso ter nada registrado no meu nome sabe?
– Nossa Aurora, você está com algum problema sério? 4
–
–
Olha. Pensei – Que tal a gente ir almoçar e eu te conto no caminho? 4
Denise era muito legal, como já falei, era tipo a Isa, uma pessoa que se preocupava com a outra, eu
poderia não contar a minha história a ela, mas ela foi tão solidária comigo, que contei tudo que me
aconteceu até chegar na fazenda, mas ocultei sobre o homem da ponte.
Nós almoçamos, depois saimos para comprar umas roupas para ela numa loja, enquanto eu a esperava se vestir, trocava as fraldas de Noah, no interior da loja mesmo.
Estávamos passeando pelo corredor do shopping, quando vi um armarinho de costura, entrei nele e comprei algumas coisas, já que não receberia por cuidar do Noah, teria que ganhar meu próprio
dinheiro, e como Denise disse que na vila havia uma feirinha nos domingos, seria o dia ideal para
vender meus lacinhos.
Denise havia entrado numa loja ao lado, enquanto fazia minhas compras, logo quando sai a esperei
do lado de fora, ela demorou até um pouquinho já que estava numa lojinha de celular. Enquanto eu
que Oliver havia me dado, para comprar algo que eu gostasse para Noah, olhei algumas coisinhas com atenção, e vi uma caixinha linda, dentro dela havia alguns compartimentos de vidro, onde
você colocava, a pulseira do hospital, o umbigo que caiu, a primeira mecha de cabelo cortado, e o
primeiro dentinho. Não pensei duas vezes e resolvi comprar, mas não usei o cartão de Oliver, comprei com meu próprio dinheiro, seria um presente meu para esse bebê lindo, que mesmo sem
ter o amor da mãe, cresceria sabendo que é muito especial e amado por todos a sua volta, acho que
uma mãe faria essas coisas pelos filhos sabe? Guardar as primeiras lembranças de recém-nascido.
Tenho certeza de que quando ele crescer, vai se sentir especial e amado ao ver a caixa, também
havia guardado a pulseira dele, quando dei o primeiro banho, também guardarei o umbigo quando
cair, e assim até toda a caixinha ficar completa.
Sai da loja e encontrei Denise, que agora me esperava.
– Nossa fiquei preocupada, quando não te vi onde deixei – Falou me repreendendo. Por isso que
é ruim não ter um celular, sabe?
–
–
Eu sei Denise, mas já te expliquei.
Toma! Ela estendeu a mão com um cartão para mim.
O que é isso?
Comprei para você!
Peguei o cartão e vi ser um chip novo de celular.
– Já te falei que não posso cadastrar no meu nome, porque posso ser rastreada
– Relaxa, já está cadastrado no meu, você vai usar agora um número, que ninguém nunca vai saber
que é seu!
-Denise, não precisa fazer isso!
– Claro que precisava, eu gostei de você Aurora e quero ser sua amiga, e amigas tem que telefonar
para as outra.
Riamos
Denise estava fazendo algo por mim, como Isa fez outrora, no fundo, me senti tocada por sua
gentileza, por ter um pouco de preocupação por mim, era bom ter alguém para conversar, era bom
não se sentir só às vezes.
– Obrigada Denise! Foi tudo o que pude dizer com meus olhos já marejados.